26/10/2022
  • Nomad
  •  

    O que não te falaram sobre o Enduro - Parte 2

     

    Na semana passada discutimos sobre a dinâmica das subidas e como tudo fica mais estratégico e misterioso sem a cronometragem. Hoje vamos falar sobre algo bem mais divertido: Descidas

    Por Breno Bizinoto

     


  • Ok, qualquer iniciante já sabe que a ideia principal do enduro é botar pra baixo, afinal, o que vale tempo são somente as descidas. Tá certinho, mas vale a pena a gente dissecar isso aí e explicar o quanto muda. Enumero aqui os seguintes pontos:

     

  • Nomad
  •  

    • Você está sempre 'descansado' quando inicia a descida

    Bom, a princípio todos pensam que largar descansado permite que você tenha mais energia para gastar durante a Especial, logo, vai conseguir fazer "mais força". É verdade, claro, mas o que precisamos entender é que isso não muda somente a sua força, mas muda principalmente a sua forma de conduzir a bicicleta. Ainda mais pelo fato de que, quando a especial acabar, você vai ter tempo para se recuperar, sem ser cronometrado. Por isso, pode gastar muito mais energia naquele trecho, se comparado com uma descida de XCO ou XCM.

     

    Dessa forma, a sua técnica passa a ser completamente diferente. Por exemplo: ao passar por uma pedra em uma prova de XCM, talvez a melhor estratégia seja passar por cima dela ou até desviar pelo lado, com uma leve curva ou freada. Já no Enduro, você vai dar 3 pedaladas bem forte e prender a respiração assim que chegar na pedra, dar aquela puxada (também forte) com os braços para saltar e enfim receber um impacto em todo o seu corpo e equipamento lá na frente. É um gasto energético muito alto, investido para ganhar pouquíssimos segundos. Em uma prova de XCM não é inteligente fazer isso, pois você vai se desgastar demais sem ganhar tanto tempo em troca, o que te deixaria minado para a próxima subida. Já no enduro, faz total diferença.

     

    Além do exemplo da pedra, poderíamos citar vários outros onde a tocada vai ser totalmente diferente, por simples questões de não haver a necessidade de uma condução energeticamente econômica como acontece em provas de XCM e XCO. Se você é competidor de XC e vai se aventurar em um enduro pela primeira vez, seguramente você vai começar a pedalar em trechos de descida que lá no XC você só deixava a bike descer na inércia. Vai começar a usar os freios de forma diferente e provavelmente vai trabalhar muito mais o seu corpo ao invés de usar só as pernas. Não porque as descidas sejam diferentes, mas porque você vai parar de conduzir no modo econômico e vai passar a conduzir no modo Turbo. 

     

  • Nomad
  •  

    • Você larga sozinho, sem trânsito e sem poder copiar a linha de ninguém

    Largar sozinho faz total diferença. Consciente ou não, o piloto de XC deve estar sempre preocupado com os atletas que estão ao seu redor. Não adianta você acelerar demais em uma descida, por que se tiver algum atleta logo ali na frente, ele vai fechar o seu caminho e você vai ficar preso no trânsito. Da mesma forma, se você está no meio de um grupo, talvez seja interessante acelerar na subida para liderar o pelotão e começar a descer na frente, sem trânsito, ditando o ritmo do grupo ou tendo a oportunidade de atacá-lo se sentir vontade. Ainda sobre estratégias de XCO, você pode escolher um bom atleta para descer na sua frente, pois isso cria muita confiança em copiar as linhas daquele cara e te economiza bastante energia.

     

    No enduro não tem nada disso. Você joga sozinho, sem se preocupar com trânsito, com leitura de linhas, vácuo ou gente caindo perto de você. É a oportunidade perfeita de fazer a sua prova, sem influências externas. O jogo mental - você está competindo com um fantasma - passa a ser bem maior do que o jogo de xadrez estratégico que existe no XCO.

     

  • Nomad
    • As descidas não são tão diferentes assim

    É sério. O grande medo dos atletas de XCO é chegar em uma prova de enduro e darem de cara com descidas de Downhill, linhas monstruosas, perigosas e impossíveis de passar. Não é assim.

     

    O EWS (Enduro World Series), que é a Copa do Mundo de Enduro, possui pistas realmente acima da média, assim como as pistas de XCO da UCI também são muito perigosas para a maioria dos praticantes de XC. Mas as competições convencionais de Enduro, abertas para qualquer atleta se inscrever, adotam pistas muito orgânicas e acessíveis, sempre com linhas alternativas que costumam deixar em dúvida sobre qual é a mais difícil e qual é a "chiken line". São descidas típicas de uma trilha de MTB que a galera do XCO também curte passar.

     

    Aquela pergunta "posso fazer uma prova de enduro com uma bike de XCO?" - Se não for uma prova do EWS pode sim. Eu já fiz algumas e não me arrependi. Em outro texto posso até descrever com mais calma como foram essas experiências.

     

  • Nomad
  •  

    • Todo detalhe é importante

    Isso é algo mágico no esporte, mas que deixa o enduro ainda mais intenso. Lembro-me de pensar nas provas de XC: "Não vale a pena eu fazer essa curva sem frear só por causa de alguns segundos". Acontece que no Enduro, vale a pena sim.

    Ou seja, não é que a pista seja mais perigosa, mas sim que a condição da prova diminui os seus argumentos para pensar de forma conservadora, caso queira lutar por um pódio. Se quiser só completar, vida que segue e não vai mudar tanta coisa assim.

    Mas quem quer tentar um tempo legal em uma prova de enduro, precisa se ater a cada detalhe, memorizar as curvas, pedras, raízes, tomar a decisão de se arriscar mais e aprender uma nova administração de energia - em resumo, colocar a condução no modo Turbo, traçar uma linha reta nos rock gardens e sentir o gosto de sangue na boca. Adrenalina e um pouco mais.

     

    Não leu a parte 1 sobre as subidas? Corre que ela tá aqui.

    Boa leitura e bons pedais!

     

Este site utiliza tecnologias como cookies para melhorar sua experiência de acordo com nossa política de privacidade . Ao permanecer navegando, você concorda com estas condições.