10/01/2023
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    Por que alguns atletas não usam luvas?

     

    A verdade é que nas mãos se repete a mesma teoria de conforto versus performance. Mas afinal, como, tecnicamente, a troca da segurança e conforto proporcionada pelas luvas pode ser convertida em performance?

    Por Breno Bizinoto

     


     

  • Não é muito necessário explicar por que os ciclistas, do road ao DH, utilizam luvas durante seus treinos e provas. Em primeiro lugar, para ganhar grip. Utilizando boas luvas, as mãos ficam bem mais coladas nos punhos da bike, reduzindo as chances de escorregarem e você cair.

    Em segundo lugar, vem o quesito proteção. Caso você tome um tombo, estará com as mãos sempre protegidas, evitando que elas fritem no asfalto. Quem já ralou as mãos sabe como é triste ficar duas semanas sem pedalar e sem praticar nenhuma outra atividade do dia-a-dia, pelo simples fato de não conseguir utilizar as mãos para nada. Banho? Esquece.

     

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    Esse não é o intuito da nossa coluna de hoje. O que eu queria discutir aqui é o fato de, apesar dessas qualidades importantíssimas - grip e proteção - ainda encontrarmos alguns atletas que, eventualmente, saem para pedalar sem luvas.

    É normal que atletas de enduro apareçam fazendo treinos mais curtos sem luvas. No road, já vimos alguns famosos competirem assim. Por desinformação, alguns atletas amadores copiam esse costume - alegando ser mais confortável - o que é um erro. Vamos enumerar aqui as qualidades de sair sem luvas, mas saibam que "conforto" definitivamente não é uma delas!

     

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    Sair sem luva é muito mais desconfortável, pois exige que você faça mais força fechando as mãos no guidão para que elas não se escorreguem, afinal, sem luvas o atrito (grip) é bem menor. Se você estiver com as mãos suadas, molhadas ou sujas de protetor solar, pior ainda. Se não é por conforto, o que é então? O ganho ao retirar as luvas está na sensibilidade tátil que o atleta tem com o seu equipamento e na resposta imediata da sua pilotagem. Vamos traduzir isso.

     

    Um atleta precisa sentir as trepidações que chegam até a sua bike, pois isso faz com que ele entenda tudo que está acontecendo lá no contato dos pneus com o chão, onde a vista do piloto não alcança mais. A trepidação que chega até o guidão da bike pode facilmente deixar o atleta saber se ele está passando por um piso arenoso, escorregadio ou de cascalho. Dá pra saber inclusive se a tração está boa ou se está passando por uma perda de tração. Se você estiver sem luvas, vai ter mais sensibilidade para traduzir qualquer mudança que aconteça no piso que está pilotando. Por outro lado, se utilizar luvas e punhos muito densos e com muitas camadas de absorção de impactos, perde-se o tato da mão para transcrever tais informações!

     

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    Existe ainda o tempo de resposta. Imaginem por exemplo que, você se depara com um bueiro e precisa fazer um salto para se livrar do tombo que está por vir. A luva e punhos muito acolchoados e cheios de espuma fazem com que você "demore mais tempo" para conseguir puxar o guidão e transferir o movimento para o restante da bicicleta. O amortecimento de impacto daquelas peças passa a funcionar como "amortecimento de movimento", conseguem entender?

     

    O mesmo acontece em provas de road: um atleta decide fazer um sprint e precisa de reação imediata! Querendo ou não, suas mãos são o ponto de partida daquele ataque pedalando em pé e puxando a bike. Se essa puxada estiver munida de muita espuma e conforto, o tempo de reação será, microscopicamente, atrasado.

     

    É como comparar um soco na cara utilizando uma luva de boxe e outro sem utilizar a luva. Com a luva de boxe o soco é bem mais confortável (tanto para quem dá o soco quanto para quem toma a porrada na cara), mas existe uma perda tátil (fica difícil sentir na mão se você acertou o nariz ou queixo, assim como a transferência de energia vai ser bem menor. Já o soco sem luva, esse deixa a marca do nariz na mão de quem deu a porrada. A transferência de energia é total e a eficiência é bem maior. Sem luvas, o conforto é zero para ambas as partes, mas o dano (entendam, eficiência do soco) é bem maior.

     

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    Voltando ao ciclismo, fica evidente que tudo isso que estamos falando é algo de extrema precisão e que nem todos atletas conseguem de fato observar tais benefícios ao deixar de utilizar a luva. Porém, perde-se muita proteção e grip quando o fazem, logo, a conta não fecha. Não usar luvas não é uma boa escolha.

     

    Acontece que os atletas encontraram um meio termo saudável para isso. As luvas de ciclismo, que antes pareciam mesmo com luvas de boxe, cheias de acolchoamento, hoje utilizam camadas mais finas, com o intuito de manter a proteção e grip. Ao mesmo tempo, buscam diminuir a absorção de impactos e conforto excessivo.

     

    Luvas e punhos passaram seguir uma tendência entre os atletas profissionais: o conforto fica em segundo plano. Os punhos não possuem mais aquela mesma camada de espuma macia que existia antigamente, assim como na palma da mão das luvas. Talvez essa espuma excessiva seja legal para provas de endurance (12 horas de duração ou mais), mas para competições de até 5 horas não existe a necessidade de tanto conforto assim.

     

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    Os fabricantes mais ligados nas tendências profissionais adotaram um tecido fino na palma da mão das luvas, que busca transcrever para o atleta todas as trepidações e receber integralmente os movimentos aplicados pelo piloto ao seu equipamento. Essa camada deve ser fina e ter superfície não escorregadia, pois o grip ainda é a parte mais importante de todas. E essa camada de tecido deve ser forte para aguentar um tombo sem ralar as mãos!

     

    É claro que esse é um modelo de luvas desenvolvido para performance: possui alto grip, baixo conforto nas trepidações, vai oferecer proteção para um tombo somente (assim como os capacetes) - mas vai cumprir com as demandas de performance: sensibilidade tátil e transferência imediata do movimento.

     

    Foi-se o tempo das luvas gigantes, cheias de espumas e tecnologias de gel para amortecer o impacto e transformar a sua bike em uma luva de boxe. E foi-se o tempo em que era cool aparecer sem luvas, como símbolo de rebeldia e coragem. A tecnologia está aí para nos proteger e dar asas para os nossos pedais.

    Bons treinos!

     

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