31/05/2022
  • Créditos: Alemão Silva
    Créditos: Alemão Silva
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    ENDURANCE

    GRAVEL E LONGAS DISTÂNCIAS - Como eles complementam outras disciplinas no mundo da bike

    Primeiro de tudo, a gente precisa lembrar que nenhuma modalidade é totalmente autossuficiente!

    Texto por Breno Bizinoto (@revistaciclosul)

     


     

    Independente de você ser um atleta exclusivamente dedicado ao ciclismo de estrada, ou exclusivamente dedicado ao XCO, ou Enduro, BMX, gravel, você sempre pode ser melhor naquela modalidade que escolheu se você tiver o costume de praticar outras modalidades também.

    Resumidamente, temos que entender que o Gravel tem algumas características únicas que podem servir muito bem para atletas de enduro, xco e road bike, desde a parte de performance até a parte de, pasmem, pilotagem e trechos técnicos.

    Vamos pontuar aqui duas características do Gravel:

    1 - Longas distâncias

    Sim, desde que o mundo é mundo, a modalidade gravel está diretamente ligada com ficar muitas horas em cima da bike. Não faz muito sentido sair pra pedalar com essa bike, que é um intermediário entre as Road e as XC, para fazer um treino de 30 km ou de uma hora e pouco. Ela é antes de mais nada, uma bike confortável e feita para passar em muitos lugares.

    2 - Bike mais versátil do mundo

    Eu sei que você chama a sua bike Trail e bike de Enduro como "all-mountain", e no português de Portugal utilizam o termo BTT - Bike Todo Terreno. Acontece que as Gravel são as que mais conseguem performar em uma grande amplitude de terrenos - do asfalto liso até às estradas de terra, se arriscando até em trilhas e single tracks, com velocidades bem altas, podendo chegar a números assustadores a depender da habilidade do piloto.

     

  • Créditos: César Delong
    Créditos: César Delong
  • Conduzindo um pelotão de gravel que explorava o Brasil para organizar a primeira edição do Biking Man Brazil.

     

    Com base nessas características, podemos desenvolver pontos que não encontramos com tanta facilidade em outras modalidades:

    Desenvolver um bom volume

    Digamos que você seja um atleta de enduro ou XCO e está aí pensando que o gravel não tem nada a ver com você, principalmente quanto a necessidade de treinar longas distâncias. Acontece que treinos mais longos vão te entregar uma repetição maior do giro das pernas - entenda, uma cadência mais concisa - e isso é algo saudável para a sua musculatura de endureiro que precisa treinar na pista um dia antes da prova oficial e acaba chegando um pouco fadigado na hora das especiais - sobretudo com a necessidade de fazer os "longos" deslocamentos.

    O treino de longa distância vai aumentar a sua capacidade de se recuperar mais rápido, o que vai te fazer chegar na ultima especial da prova sem se sentir tão pregado quanto os seus adversários.

    O mesmo vale para a sua rotina de treinos: se você é um cara que treinou características de longa distância, seu corpo vai ter a incrível habilidade de se recuperar no intervalo existente entre dois treinos. Isso vai fazer cada um dos treinos ter mais qualidade e conversão em performance.

     

    Pilotagem

    Sim, andar de gravel vai te entregar algumas qualidades que as MTB demoram um pouco mais pra te entregar. Digo que até a road consegue fazer isso, mas algumas pessoas não estão prontas para essa discussão.

    A velocidade máxima em uma prova ou treino de enduro geralmente é de 40 km/h, raramente chegando aos 50. Se passar disso, pode-se dizer que ali existia um trecho "sem graça" para andar de enduro onde os atletas provavelmente passaram por um estradão ao invés de pegar uma trilha técnica.

    Mas quando você desce uma serra asfaltada (ou de estrada de terra), onde a velocidade máxima pode chegar a 80 km/h ou mais, aí você desenvolve algumas habilidades interessantes.

    A primeira, é perder o medo de altas velocidades, algo instintivo de todo ser humano.

    A segunda é pilotar na trepidação. Não se trata de transpor um obstáculo como uma pedra ou raíz, mas de absorver microimpactos que chegam do solo até o ciclista, que quando está em alta velocidade, qualquer ranhura de asfalto exige que você segure o guidão com a força correta. Nem muito forte, pois isso cria um desgaste dos membros superiores em longo prazo e ainda tira a sua capacidade de pilotar - e nem muito fraco, pois isso pode fazer a trepidação virar um vôo livre. Como essas bikes não tem suspensão, você cria uma tensão muscular bem diferente nos treinos de gravel e eles te proporcionam bastante firmeza e reflexo para a pilotagem.

     

  • Créditos: César Delong
    Créditos: César Delong
  • Rafa do Canal de Bike em um trecho do Inca Divide, no Peru, com a típica trepidação dolorosa.

     

    Outra habilidade legal que a road e gravel criam é a visualização de linhas de curvas, sem a interferência de obstáculos, permitindo que o atleta aprenda a escolher o melhor traçado de uma curva, tendo somente a curva como desafio.

    No MTB, você escolhe o traçado de uma curva preocupando-se primeiramente com os obstáculos. Ou seja, o piloto quase nunca visualiza a linha nua da curva, mas uma linha que desvia primeiro dos buracos, raízes e pedras soltas, para depois então avaliar qual é o melhor trajeto para fazer a curva em questão.

    Quando você pratica curvas em serras sinuosas asfaltadas, quase sem imperfeições do piso, você aprende a entender qual é o melhor traçado para se fazer uma curva em alta velocidade, entendendo com mais exatidão onde está o ponto mais externo e o mais interno daquela curva, o quanto você tem que abrir e onde vai começar e terminar a sua curva. É como se tivesse a oportunidade de entender a ciência das curvas em um laboratório feito só para isso, sem interferência de outras preocupações - e isso agrega muito nesse aprendizado.

     

  • Créditos: César Delong
    Créditos: César Delong
  • Curvas livres para serem cortadas no Inca Divide

     

    A turma do XC já entendeu que os pedais de road são muito importantes para quem anda de MTB, mas ainda reclamam que é uma bike mais perigosa e que pode te jogar no chão com muita facilidade. Não é mentira, principalmente quando avaliamos as estradas brasileiras. Nesse caso, a gravel pode ser uma ótima solução, pois te oferece muito mais tração, frenagem e segurança de pilotagem de forma geral. Coloque uma calibragem maior e pronto, você pode tranquilamente (com um pouquinho de arrasto a mais né) acompanhar o pelotão de speed da sua cidade.

     

  • Créditos: César Delong
    Créditos: César Delong
  • Créditos: Alemão Silva
    Créditos: Alemão Silva
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    Claro que a gravel consegue acompanhar tanto a turma de MTB quanto de road

    E para os endureiros que dizem odiar o asfalto (eu acho que vocês falam isso por que nunca desceram uma boa serra com curvas e alta velocidade), a gravel é uma boa solução para vocês fazerem treinos mais longos e mais rolados, aprimorando a cadência e outros pontos que citamos aqui, sem ficarem presos ao asfalto somente. Deu vontade de pegar aquela terrinha passando que apareceu? É só despedir do pelotão de speed e deixar o seu lado off-road falar mais alto.

    Olhando de longe até parece que a gravel não aguenta andar na terra, mas a verdade é que em um estradão plano ou de subida ela consegue alcançar velocidades bem maiores que a MTB. Se tiver barro, melhor ainda.

    Em situação de areia, pegue e sua gravel e volte pra casa, pois ela é simplesmente horrível nessas condições.

    Brincadeiras a parte, pensem com carinho em conhecer essa modalidade que é muito divertida, te permite andar em todos os tipos de grupos de pedal e pode te oferecer muitas novas habilidades, sem contar a possibilidade de tentar algo explorador como uma cicloviagem mundo afora. Este tema fica pra próxima!

    Abraços e bons pedais!

     

  • Créditos: César Delong
    Créditos: César Delong

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